segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Boaz e Rute

Tá de Boaz?

Este post pretende apenas discutir sobre um personagem bíblico quase desconhecido, mas que tem grande importância para o judaísmo, o cristianismo e...a maçonaria!

Boaz e Rute - Quase uma historia de Nicolas Sparks!




Antes de falarmos de Boaz, temos que obrigatoriamente falar de Rute, que foi uma moabita, um povo pelo qual os hebreus possuíam grande desprezo(falaremos mais sobre isso adiante!).
Rute era uma princesa moabita, que renunciou a sua nobreza por estar desgostosa com a imensa idolatria praticada em sua terra. Acabou conhecendo um hebreu, de nome Machlon, cuja família havia se mudado para Moab devido a uma grave fome em Judá.

Por sua vez, Machlon era filho de Noemi e Elimelech e irmão de Chilyon, este casado com uma mulher chamada Orpá.

Ora, aconteceu que ambos os filhos de Noemi morreram(sem deixar filhos ou filhas como herdeiros) e também seu marido Elimelech. Noemi exortou que Rute e Orpá voltassem para a casa de seus pais, pois se fossem embora poderiam arrumar novos maridos e continuar a vida. Se ficassem, ninguém iria querer se casar com elas, pois além de serem usadas, digo, viúvas , existia ainda a questão de Rute ser estrangeira e, portanto, provável vitima de preconceito por parte de pretendentes.

 Orpá , aos prantos , se despediu de Noemi e voltou para sua família. Rute, num grande exemplo de lealdade e dever, ficou, pois sem ela não restaria ninguém para cuidar de Noemi. Noemi, por diversas vezes, testou os motivos de Rute querer ficar (e morrer de fome) com ela, pois sabia de sua origem rica e nobre. Rute, por fim, disse:

"...não me peça para deixá-la ou para retornar… Teu povo será meu povo e seu Deus meu Deus… ’"(Ruth 1;16-17)

As duas mulheres decidiram voltar para a terra natal de Noemi e se dirigiram a Belém, uma vila de pouca importância em Judá. Ao chegarem lá, Rute insistiu para que Noemi descansasse enquanto ela sairia para procurar alguma comida, pois ambas estavam passando fome. Rute foi até um campo onde homens colhia, trigo. Viu diversos trabalhadores saindo de lá com pesados sacos cheios de espigas. Rute pensou em entrar e pedir para um deles algumas espigas. Nisso foi surpreendida por um homem sorridente, que dizia:

"Entra estrangeira e recolhe algumas espigas. Sacia tua fome!"

Era Boaz, que além de ser juiz de Israel naquela época, era também parente distante de Elimelech.
Rute pegou algumas espigas e quando ia embora, Boaz lhe aconselhou a ficar mais um pouco e se beneficiar do Peá. Ao perguntar a ele o que era isso, Boaz explicou que , segundo a Torá(os escritos sagrados do judaísmo, composto pelos 5 primeiros livros de nossa Bíblia tradicional), quando o dono de um campo já apanhou sua colheita, deve deixar um canto para os pobres, os necessitados e os estrangeiros, a fim de que venham e colham eles mesmos.



 Rute esperou e pegou mais algumas espigas. Ao sair, Boaz novamente a aconselhou a esperar um pouco mais e se beneficiar do Leket. Novamente Rute perguntou o que era isso e ele respondeu: de acordo com a Torá, se um segador deixa de cortar alguma plantação com sua foice, não lhe é permitido voltar. Deve abandonar o que esqueceu de cortar, ou que deixou cair, e este deve ser deixado atrás como respiga para os pobres e estrangeiros. Rute ficou surpresa pelos escritos da Torá serem tão maravilhosos e resolveu esperar mais um pouco e pegar mais algumas espigas.

Quando ia saindo, Boaz mais uma vez a interrompeu e disse: "Porque não esperas mais um pouco e se beneficia do Shichechá?". Novamente Rute solicitou uma explicação, que foi a seguinte: "Quando o dono de um campo está levando sua carga aos celeiros, pode acontecer que ele tenha esquecido alguns fardos no campo. A Torá o proíbe de voltar e recolhê-los, pois ele deve deixar esses fardos esquecidos para os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros."

Rute acabou recolhendo muitas espigas, mais do que o suficiente para garantir comida para ela e Noemi por um bom tempo. Ao contar sobre Boaz , Noemi o identificou como parente de Elimelech. Ao mesmo tempo, Boaz perguntou na região sobre uma estrangeira recém-chegada. Com o passar do tempo, eles se casaram e tanto Rute como Noemi tiveram uma vida de riqueza e felicidade.

Se a história parasse por aí , já seria uma grande lição de justiça social, caridade e lealdade ao dever. Mas a história continua, pois Rute e Boaz tiveram um filho, chamado Oved. Este , por sua vez, teve um filho chamado Jessé, que foi o pai de Davi, primeiro rei de Israel e pai de Salomão. Séculos mais tardes, para os cristãos, essa família geraria Jesus, nascido na mesma Belém de Rute e Boaz. Belém, cujo nome significa "casa do pão".

A história de Rute é lembrada nas sinagogas do mundo inteiro durante o Shavuot, uma importante festa judaica.

Uma vez contada a história, passaremos a analisar de maneira mais profunda o simbolismo da mesma.

Quem eram os Moabitas?

O Reino dos Moabitas, chamado também de simplesmente Moab na Bíblia, ficava na região conhecida hoje em dia como Jordânia. Sua origem mítica está no personagem Moab, fruto de uma relação incestuosa entre Lot(Ló) e sua filha, logo após a destruição de Sodoma e Gomorra. Lot era irmão de Abraão e, portanto, Moab é seu sobrinho e também sobrinho-neto.

Moab, sendo fruto de um grande pecado(segundo as leis judaicas) seria uma espécie de herdeiro de tudo o de ruim que existia em Sodoma e Gomorra. O nome MOab tem como significado, em Hebreu, a expressão "semente do Pai" ou simplesmente "do Pai".

Moab e Israel guerrearam por diversas vezes ao longo da história. Uma dessas guerras, inclusive, tem prova histórica: um fragmente de pedra onde se conta a vitória do rei israelita Omri sobre os moabitas. Essa pedra tem origem moabita e data de 830 A.C. É uma das pouquíssimas provas que se tem de que um personagem do Antigo Testamento existiu de fato. O nome dessa pedra é Estela Mesa e se encontra atualmente no Museu do Louvre. Ela também prova que os moabitas falavam e escreviam uma variação da língua Hebraica, provando consequentemente uma possível origem comum dos dois povos.

Rute, sendo uma princesa moabita, era descendente direta de Lot. Ao se casar com um descendente de Abraão por 2 vezes seguidas, temos que a história fecha um ciclo, reunindo em uma só a família do patriarca Hebreu.

Seu descendente, Salomão(que será tema de um dos próximos posts) resolveu homenagear o antepassado batizando uma das colunas do Templo com o nome de Boaz. Ou teria ele(ou o escritor do livro que relata isso)outro motivo que não a memória de um antepassado honrado, para fazer isso?

O Simbolismo do Nomes

Rute primeiro acreditou para depois compreender. Tendo isso em vista, vamos analisar os significados dos diversos nomes que apareceram nessa história.

Elimelech significa "Deus é meu Rei" enquanto Noemi significa "deleite, prazer"(curiosidade=existe uma palavra japonesa, Naomi, que significa "beleza"). Seus filhos, Machlon e Chylion significam, respectivamente, "doença" e "destruição".

Aqui temos uma mensagem óbvia: quando um fiel de Deus se rende aos prazeres mundanos, o resultado é a morte! Não que os prazeres do mundo sejam maléficos, longe disso. Mas Elimelech "foge" da Terra Prometida a procura de condições financeiras melhores, o que denota falta de esperança, falta de fé.

Dificuldades e fome obrigaram a família de Elimelech a sair de Belém("a casa do pão") e ir para Moab, uma terra considerada com impura e habitada por um povo pecaminoso. Entretanto, tudo indica que as dificuldades e a fome foram de natureza espiritual, ou seja, alude a tendência que temos todos nós de cairmos, moralmente falando, quando na ocasião de tentação. Sempre quando as coisas ficam dificeis ou simplesmente tediosas, afrouxamos nossas travas morais...não é?

Orpá, cunhada de Rute, significa "obstinação", mas no sentido rebelde da palavra, o popular "cabeça-dura".

Rute significa "companheira". Ela , moabita, seria quem traria a salvação para esta família em franca decadência.

Boaz significa "força" ou "firmeza". E qual seria essa tão grande força que deu origem a tantas pessoas lendárias?

Parte Cabalística!


Lendo o livro de Rute a resposta fica muito fácil: a verdadeira força vem da combinação entre misericórdia e caridade que em hebraico podem ter apenas uma tradução, "Chesed".

Chesed, na Arvore da Vida cabalística, está situada no Pilar da Misericórdia, e representa justamente a Bondade. É o ultimo passo , na Cabala, antes do mundo de Atziluth, também chamado de mundo divino.

A Cabala lida muito com as letras do alfabeto hebraico e seus significados ocultos. Basicamente, cada letra do alfabeto hebraico é parte do caminho de evolução encontrado na Arvore da Vida.

Boaz em hebraico tem como primeira letra Beth, que é a segunda letra do alfabeto. Talvez por essa razão, mitos tenham traduzido Beth como sendo a letra B, mas um estudo aprofundado de sua sonoridade mostra que as duas possuem diferentes sons.

Beth significa "casa", que é um lugar definido e objetivo(minha casa, a casa de fulano)como sendo o centro da vida de alguém.



Formas antigas desta letra lembravam meio que a ponta de uma flecha. Os gregos chamavam as ponta das flechas de kentrom, que é de onde vem a palavra concentração.

Podemos então, usando essa analise cabalística simples(sem entrar em valores numéricos de letras) formar  seguinte lição final dessa historia toda:

CONCENTRAÇÃO É REUNIR UNIDADES DE FORÇA EM UM SÓ LUGAR.

Fim de nossa analise.


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Hiram, a Espiritualidade e o Profano

Resolvi fazer um artigo curto porém cheio de "revelações". Digo isso com aspas, pois tal conhecimento está a disposição de qualquer maçom que se disponha a estudar de forma séria a Arte Real. Aqueles que meramente estão na maçonaria e acabam iludidos pelo poder e prestigio aparentes nada é revelado, não porque o assunto é difícil, mas porque eles não querem saber, de verdade.

Paracelso costumava dizer que " se quiser transmutar algo, primeiro transmute a si proprio". É obvio que alguns maçons morrem profanos após o grau 33, mesmo eu não sendo deste grau. Neste pequeno texto, IMHO, mostrarei a causa disso.

Enfim, vamos parar com a enrolação e falar sobre Hiram Abiff.

Não estou quebrando nenhum segredo ao dizer que Hiram Abiff é importante para a maçonaria. Também não vou descrever aonde e porque no ritual ele aparece. Vou meramente fazer uma breve analise cabalística e  alquímica de seu nome.

HIRAM, em hebraico, se escreveria CrHM(esta é uma adaptação do hebraico, usando o alfabeto ocidental).

Não vamos nos ater ao significado de Hiram mas, utilizando a técnica cabalística chamada notaricon, vamos dissecar seu nome. Na verdade, CrHM é um acrônimo para 3 dos quatro elementos da natureza.

Fogo em hebraico adaptado seria ChAMAH e está relacionado com a cabeça.

Ar em hebraico adaptado é RUACh e está relacionado com o peito.

Água em hebraico adaptado é MAYIM e está relacionada com o abdômen.

Antes de continuar , peço que olhem as palavras em negrito acima destacadas e tentem se lembrar de alguma coisa do ritual(nem todos vão "pescar" isso. Vai depender do grau).

Continuando o assunto principal, se pegarmos as primeiras letras de cada elemento, temos ChRM.

"E o elemento Terra ? ",  vocês me perguntam. Calma, antes vamos examinar a palavra Abiff.

Abiff tem alguns significados em hebraico, mas o escritor T. Hogan aponta um fato interessante: existe uma palavra em francês antigo(como antigo queremos dizer idade média e renascimento) , biffet, que significa "eliminar" ou "eliminado". Se pensarmos que , nessa época a maçonaria estava nascendo e o frances era uma das línguas mais faladas da Europa, a teoria é interessante. De fato, T. Hogan diz que Abiff vem da mesma raiz fonética que biffet.

Assim, Hiram Abiff seria traduzido como Hiram o eliminado.

Assim, o Fogo, o Ar e a Água são elementos e características que precisam ser descobertos, literalmente desenterrados da carcaça que jaz eliminada na Terra. Pra quem entende um pouco de cabala, isso significa sair de Malkuth e buscar lugares mais elevados.

Em linguagem simples, significa espiritualizar a matéria, espiritualizar o homem terrestre.

O elemento Terra é onde o maçom já estava antes da iniciação. É o animal sem a alma, sem o sopro de vida.

E quantos maçons acabam por se desligar totalmente da espiritualidade ao adentrar a maçonaria? Muitas vezes confundem religião com espiritualidade, instituição com fé e acham que se lembrar do GADU no inicio de nossas sessões é o suficiente. Ledo engano.

Quando digo espiritualidade incluo não somente a religião de nascimento mas também a  capacidade de enxergar , de forma espiritual e simbólica, o ritual maçônica.

Quando da sindicância , uma das perguntas que me foram feitas era "qual a minha religião?"!. 

Acredito que devemos acrescentar mais uma: " Ok, você então se considera um bom católico/protestante/espírita/budista/umbandista/muçulmano? Seja sincero!".

Talvez isso evitasse o principal problema da maçonaria: a do maçom que morre profano.

Recomenda a leitura de The Alchemical Keys to Masonic Ritual, de Timothy Hogan.