Tá
de Boaz?
Este post pretende apenas discutir sobre um
personagem bíblico quase desconhecido, mas que tem grande importância para o
judaísmo, o cristianismo e...a maçonaria!
Boaz
e Rute - Quase uma historia de Nicolas Sparks!
Antes de falarmos de Boaz, temos que
obrigatoriamente falar de Rute, que foi uma moabita, um povo pelo qual os
hebreus possuíam grande desprezo(falaremos mais sobre isso adiante!).
Rute era uma princesa moabita, que renunciou a sua
nobreza por estar desgostosa com a imensa idolatria praticada em sua terra. Acabou
conhecendo um hebreu, de nome Machlon, cuja família havia se mudado para Moab
devido a uma grave fome em Judá.
Por sua vez, Machlon era filho de Noemi e Elimelech
e irmão de Chilyon, este casado com uma mulher chamada Orpá.
Ora, aconteceu que ambos os filhos de Noemi
morreram(sem deixar filhos ou filhas como herdeiros) e também seu marido
Elimelech. Noemi exortou que Rute e Orpá voltassem para a casa de seus pais,
pois se fossem embora poderiam arrumar novos maridos e continuar a vida. Se
ficassem, ninguém iria querer se casar com elas, pois além de serem usadas,
digo, viúvas , existia ainda a questão de Rute ser estrangeira e, portanto,
provável vitima de preconceito por parte de pretendentes.
Orpá , aos
prantos , se despediu de Noemi e voltou para sua família. Rute, num grande
exemplo de lealdade e dever, ficou, pois sem ela não restaria ninguém para
cuidar de Noemi. Noemi, por diversas vezes, testou os motivos de Rute querer
ficar (e morrer de fome) com ela, pois sabia de sua origem rica e nobre. Rute,
por fim, disse:
"...não me peça para deixá-la ou para retornar…
Teu povo será meu povo e seu Deus meu Deus… ’"(Ruth 1;16-17)
As duas mulheres decidiram voltar para a terra natal
de Noemi e se dirigiram a Belém, uma vila de pouca importância em Judá. Ao
chegarem lá, Rute insistiu para que Noemi descansasse enquanto ela sairia para
procurar alguma comida, pois ambas estavam passando fome. Rute foi até um campo
onde homens colhia, trigo. Viu diversos trabalhadores saindo de lá com pesados
sacos cheios de espigas. Rute pensou em entrar e pedir para um deles algumas
espigas. Nisso foi surpreendida por um homem sorridente, que dizia:
"Entra estrangeira e recolhe algumas espigas.
Sacia tua fome!"
Era Boaz, que além de ser juiz de Israel naquela
época, era também parente distante de Elimelech.
Rute pegou algumas espigas e quando ia embora, Boaz
lhe aconselhou a ficar mais um pouco e se beneficiar do Peá. Ao perguntar a ele
o que era isso, Boaz explicou que , segundo a Torá(os escritos sagrados do
judaísmo, composto pelos 5 primeiros livros de nossa Bíblia tradicional),
quando o dono de um campo já apanhou sua colheita, deve deixar um canto para os
pobres, os necessitados e os estrangeiros, a fim de que venham e colham eles
mesmos.
Rute esperou
e pegou mais algumas espigas. Ao sair, Boaz novamente a aconselhou a esperar um
pouco mais e se beneficiar do Leket. Novamente Rute perguntou o que era isso e
ele respondeu: de acordo com a Torá, se um segador deixa de cortar alguma
plantação com sua foice, não lhe é permitido voltar. Deve abandonar o que
esqueceu de cortar, ou que deixou cair, e este deve ser deixado atrás como
respiga para os pobres e estrangeiros. Rute ficou surpresa pelos escritos da
Torá serem tão maravilhosos e resolveu esperar mais um pouco e pegar mais
algumas espigas.
Quando ia saindo, Boaz mais uma vez a interrompeu e
disse: "Porque não esperas mais um pouco e se beneficia do
Shichechá?". Novamente Rute solicitou uma explicação, que foi a seguinte:
"Quando o dono de um campo está levando sua carga aos celeiros, pode
acontecer que ele tenha esquecido alguns fardos no campo. A Torá o proíbe de
voltar e recolhê-los, pois ele deve deixar esses fardos esquecidos para os
pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros."
Rute acabou recolhendo muitas espigas, mais do que o
suficiente para garantir comida para ela e Noemi por um bom tempo. Ao contar
sobre Boaz , Noemi o identificou como parente de Elimelech. Ao mesmo tempo,
Boaz perguntou na região sobre uma estrangeira recém-chegada. Com o passar do
tempo, eles se casaram e tanto Rute como Noemi tiveram uma vida de riqueza e
felicidade.
Se a história parasse por aí , já seria uma grande
lição de justiça social, caridade e lealdade ao dever. Mas a história continua,
pois Rute e Boaz tiveram um filho, chamado Oved. Este , por sua vez, teve um
filho chamado Jessé, que foi o pai de Davi, primeiro rei de Israel e pai de
Salomão. Séculos mais tardes, para os cristãos, essa família geraria Jesus,
nascido na mesma Belém de Rute e Boaz. Belém, cujo nome significa "casa do
pão".
A história de Rute é lembrada nas sinagogas do mundo
inteiro durante o Shavuot, uma importante festa judaica.
Uma vez contada a história, passaremos a analisar de
maneira mais profunda o simbolismo da mesma.
Quem
eram os Moabitas?
O Reino dos Moabitas, chamado também de simplesmente
Moab na Bíblia, ficava na região conhecida hoje em dia como Jordânia. Sua
origem mítica está no personagem Moab, fruto de uma relação incestuosa entre
Lot(Ló) e sua filha, logo após a destruição de Sodoma e Gomorra. Lot era irmão
de Abraão e, portanto, Moab é seu sobrinho e também sobrinho-neto.
Moab, sendo fruto de um grande pecado(segundo as
leis judaicas) seria uma espécie de herdeiro de tudo o de ruim que existia em
Sodoma e Gomorra. O nome MOab tem como significado, em Hebreu, a expressão
"semente do Pai" ou simplesmente "do Pai".
Moab e Israel guerrearam por diversas vezes ao longo
da história. Uma dessas guerras, inclusive, tem prova histórica: um fragmente
de pedra onde se conta a vitória do rei israelita Omri sobre os moabitas. Essa
pedra tem origem moabita e data de 830 A.C. É uma das pouquíssimas provas que
se tem de que um personagem do Antigo Testamento existiu de fato. O nome dessa
pedra é Estela Mesa e se encontra atualmente no Museu do Louvre. Ela também
prova que os moabitas falavam e escreviam uma variação da língua Hebraica,
provando consequentemente uma possível origem comum dos dois povos.
Rute, sendo uma princesa moabita, era descendente
direta de Lot. Ao se casar com um descendente de Abraão por 2 vezes seguidas,
temos que a história fecha um ciclo, reunindo em uma só a família do patriarca
Hebreu.
Seu descendente, Salomão(que será tema de um dos
próximos posts) resolveu homenagear o antepassado batizando uma das colunas do
Templo com o nome de Boaz. Ou teria ele(ou o escritor do livro que relata
isso)outro motivo que não a memória de um antepassado honrado, para fazer isso?
O Simbolismo do Nomes
Rute primeiro acreditou para depois compreender.
Tendo isso em vista, vamos analisar os significados dos diversos nomes que
apareceram nessa história.
Elimelech significa "Deus é meu Rei"
enquanto Noemi significa "deleite, prazer"(curiosidade=existe uma palavra
japonesa, Naomi, que significa "beleza"). Seus filhos, Machlon e
Chylion significam, respectivamente, "doença" e
"destruição".
Aqui temos uma mensagem óbvia: quando um fiel de Deus se rende aos prazeres mundanos, o resultado é a morte! Não que os prazeres do mundo sejam maléficos, longe disso. Mas Elimelech "foge" da Terra Prometida a procura de condições financeiras melhores, o que denota falta de esperança, falta de fé.
Dificuldades e fome obrigaram a família de Elimelech
a sair de Belém("a casa do pão") e ir para Moab, uma terra
considerada com impura e habitada por um povo pecaminoso. Entretanto, tudo
indica que as dificuldades e a fome foram de natureza espiritual, ou seja,
alude a tendência que temos todos nós de cairmos, moralmente falando, quando na
ocasião de tentação. Sempre quando as coisas ficam dificeis ou simplesmente tediosas, afrouxamos nossas travas morais...não é?
Orpá, cunhada de Rute, significa "obstinação", mas no sentido rebelde da palavra, o popular "cabeça-dura".
Rute significa "companheira". Ela ,
moabita, seria quem traria a salvação para esta família em franca decadência.
Boaz
significa "força" ou "firmeza". E qual seria essa tão
grande força que deu origem a tantas pessoas lendárias?
Parte
Cabalística!
Lendo o livro de Rute a resposta fica muito fácil: a
verdadeira força vem da combinação entre misericórdia e caridade que em
hebraico podem ter apenas uma tradução, "Chesed".
Chesed, na Arvore da Vida cabalística, está situada
no Pilar da Misericórdia, e representa justamente a Bondade. É o ultimo passo ,
na Cabala, antes do mundo de Atziluth, também chamado de mundo divino.
A Cabala lida muito com as letras do alfabeto
hebraico e seus significados ocultos. Basicamente, cada letra do alfabeto
hebraico é parte do caminho de evolução encontrado na Arvore da Vida.
Boaz em hebraico tem como primeira letra Beth, que é
a segunda letra do alfabeto. Talvez por essa razão, mitos tenham traduzido Beth
como sendo a letra B, mas um estudo aprofundado de sua sonoridade mostra que as
duas possuem diferentes sons.
Beth significa "casa", que é um lugar
definido e objetivo(minha casa, a casa de fulano)como sendo o centro da vida de
alguém.
Formas
antigas desta letra lembravam meio que a ponta de uma flecha. Os gregos
chamavam as ponta das flechas de kentrom,
que é de onde vem a palavra concentração.
Podemos então, usando essa analise cabalística
simples(sem entrar em valores numéricos de letras) formar seguinte lição final dessa historia toda:
CONCENTRAÇÃO É REUNIR UNIDADES DE FORÇA EM UM SÓ
LUGAR.
Fim de nossa analise.