Começo agora uma série de postagens para criar uma discussão sobre o tema: "seriam os maçons descendentes espirituais diretos ou indiretos da Ordem Templária ?"
Boa parte da hipótese(difundida) de origem templária da maçonaria vem deste rito abaixo. Ele por sua vez pode ter sido influenciado por outras fontes, as quais vamos delinear em postagens futuras.
Rito da Estrita Observância Templária
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Fundação: Criado por Barão Johann Gottlieb von Hund por volta de 1754, na Alemanha. Ele afirmava ter sido iniciado em 1742 por Superiores Desconhecidos, que o incumbiram de restaurar a tradição templária por meio da Maçonaria.
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Lenda central: Após a perseguição de 1307, Pierre d’Aumont, Marechal dos Templários, fugiu com sete irmãos disfarçados de pedreiros operativos para a Escócia, onde teriam fundado a Maçonaria especulativa moderna.
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Sistema de graus:
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Maçonaria Azul (graus simbólicos)
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Mestre Escocês
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Noviciado
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Cavaleiro Templário (com subdivisões possíveis)
Mais tarde foram adicionados:
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Dois graus de Santo André (altamente simbólicos)
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Dois graus de Cavalaria: Noviço e Cavaleiro da Cidade Santa
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Dois graus ocultos com ensinamentos esotéricos sobre a origem da Maçonaria
Superiores Desconhecidos: Von Hund afirmava agir sob ordens desses mestres ocultos. Porém, nunca apresentou provas de sua existência, o que levou à ruína do Rito. Um grande encontro em Altenburg (1764) questionou essas alegações, e von Hund morreu em 1776, desacreditado.
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Transformação espiritual: O Rito influenciou sistemas esotéricos posteriores, especialmente na França. Um grupo ligado a Martines de Pasqually (fundador da tradição martinista) uniu sua filosofia espiritual à Estrita Observância, removendo o tema templário e elevando o sistema a um caminho místico e iniciático.
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Legado: Embora tenha sido extinto formalmente, seus rituais e símbolos sobreviveram e foram herdados por sistemas como os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa e por ritos suíços. O Grande Priorado da Helvécia continua a praticar variantes espirituais baseadas neste sistema.
Ordens martinistas operativas e o Rito Escocês Retificado são os principais detentores do legado acima em nossa atualidade.
A primeira requisição que temos o direito de fazer àqueles que sustentam que a Ordem do Templo continuou a ser perpetuada em segredo após sua supressão pública é escolher entre estas Lendas de sucessão, e indicar por qual das três eles estão preparados para se manter ou cair.
Obs: o texto sobre as três(ou quatro) lendas foi traduzido diretamente do livro A New Encyclopaedia of Freemasonry, vol 2. por Arthur Edawrd Waite, que é de onde vem as informações desta postagem.
A Primeira Lenda da Perpetuação: A história tradicional desse Rito Templário primordial, que exigirá consideração total em outro lugar, pode ser resumida da seguinte forma:
1. Na data da supressão nos dias de Filipe, o Belo, o Marechal dos Cavaleiros Templários era Pierre d'Aumont.
2. Ele fugiu para a Escócia com outros sete Irmãos, disfarçados de Maçons Operativos.
3. Naquele país, eles estabeleceram a Maçonaria em sua forma atual, significando a do Ofício (Craft).
Esta é a Lenda central do Rito, e — acredito — a primeira formulação distinta da tese de que a Cavalaria Templária, após sua supressão formal, foi perpetuada em segredo sob o véu da Maçonaria.
A Segunda Lenda da Perpetuação (A Ordem Francesa do Templo e a Carta de Larmenius):
1. Esta lenda está ligada à Ordem Francesa do Templo e à reivindicação de Fabré-Palaprat, que começou a ser ouvida em Paris por volta de 1804.
2. Sua principal evidência é a Carta de Larmenius, também chamada de Carta de Transmissão. O documento alega ser a renúncia de Johannes Marcus Larmenius, que teria sido nomeado por um "decreto secreto do venerável e santíssimo mártir", Jacques de Molay, como sucessor no comando dos Cavaleiros do Templo.
3. A carta é assinada por Larmenius e por 22 Grão-Mestres sucessores, terminando com a assinatura de Bernardus Raymundus Fabré-Palaprat em 1804. O autor do livro considera este documento uma fraude que "se trai a cada ponto de sua redação".
A Terceira Lenda da Perpetuação (O Rito Sueco):
1. Esta lenda afirma que, antes de morrer, Molay entregou a Ordem nas mãos de seu sobrinho, o Conde Beaujeu.
2. Beaujeu teria levado a Ordem para a Suécia, juntamente com as cinzas de seu tio.
3. A fonte desta história é desconhecida, mas o autor especula que ela foi possivelmente inventada em Estocolmo como uma alternativa à lenda da Estrita Observância.
Em adição a estas 3 lendas, temos mais uma, de Eliphas Levy:
1. O famoso ocultista francês Eliphas Lévi afirmou em 1861 que, antes de sua morte, o Chefe do Templo — Jacques de Molay — "organizou e instituiu a Maçonaria Oculta".
2. Segundo Lévi, dos confins de sua masmorra, o Grão-Mestre erigiu quatro Lojas Metropolitanas: em Nápoles para o Leste, em Edimburgo para o Oeste, em Estocolmo para o Norte e em Paris para o Sul.
3. O autor do livro observa que esta declaração parece projetada para explicar as outras lendas de perpetuação templária em conexão com a Escócia, Suécia e França.
Espiritualização do Sistema
Waite explica que, no final do século XVIII, o rito sofreu uma transformação profunda em Lyon, liderada por maçons ligados ao martinismo. Essa reforma:
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Eliminou as pretensões templárias externas
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Manteve os graus mais filosóficos e espirituais
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Alinhou o sistema com o ideal místico de regeneração interior
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Foi aprovada oficialmente na Convenção de Lyon
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Foi confirmada mais tarde na Convenção de Wilhelmsbad (1782), onde se renunciou à hipótese dos Superiores Desconhecidos e à origem templária da Maçonaria
Seria este o fim ou a conclusão deste assunto? É o suficiente para se responder a pergunta que é titulo deste post? Sem sombra de duvida, não. Nas próximas postagens, vamos explorar mais a fundo este tema.
Fonte: A New Encyclopaedia of Freemasonry, vol 2. por Arthur Edawrd Waite
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